Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo *

quinta-feira, junho 28, 2012

Não se quer aqui fazer qualquer reparo ao irrepreensível trabalho de pesquisa encetado por Caio Boschi




Para evitar desordens futuras

Adelto Gonçalves (*)

I

Em Exercícios de Pesquisa Histórica (Belo Horizonte, Editora PUC Minas, 2011), que reúne seis trabalhos do professor Caio César Boschi, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (1982) e professor titular do Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, há o ensaio “Os secretários do governo da capitania de Minas Gerais” em que se destaca a passagem pela Secretaria do Governo do reinol José Honório de Valadares e Aboim, nomeado a 11 de junho de 1784.

Não se quer aqui fazer qualquer reparo ao irrepreensível trabalho de pesquisa encetado por Caio Boschi, cujo livro é apresentado pelo professor Joaquim Romero Magalhães, catedrático da Universidade de Coimbra, que esteve à frente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Mas, por coincidência, este pesquisador andou em 2010-2011 às voltas com o mesmo Aboim num trabalho de pós-doutorado com bolsa da Universidade Paulista (Unip) sobre a atuação dos ouvidores, juízes de fora, juízes ordinários e vereadores na capitania de São Paulo (1709-1822), consultando a documentação do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), de Lisboa, que está em microfilmes no Arquivo do Estado de São Paulo (AESP). E, portanto, pode acrescentar mais algumas informações a respeito desse personagem.

E quem foi Aboim? Foi uma figura singular não no sentido de que se tenha destacado por sua atuação como burocrata a serviço da Coroa, mas porque sempre remou contra a maré, ou seja, tinha a mania de denunciar as falcatruas que seus superiores e pares costumavam fazer às escondidas. E que não eram poucas. Está claro que uma figura desse naipe no Brasil dos dias de hoje também não teria muito futuro na administração pública. Afinal, mais bem vistos são aqueles que roubam e deixam roubar.

Aboim desembarcou no Brasil pela primeira vez em 1766 para exercer o cargo de provedor da Fazenda Real na vila de Santos. E, no desempenho de suas funções, entrou em muitas discórdias com o governador e capitão-general D. Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão, o morgado de Mateus.

Uma delas é emblemática: em 1774, em carta ao rei acusou o governador de ter passado o contrato dos dízimos a Manuel José Gomes, embora Manuel de Oliveira Cardoso, capitão-mor da cidade de São Paulo, que estivera de posse o contrato dos dízimos por quinze anos, tivesse feito um lance maior. Segundo Aboim, o governador teria dito que era justo mudar de contratador e que assumiria o prejuízo que houvesse para a Fazenda Real. Fica claro que havia por trás da decisão do governador interesses subalternos e inconfessáveis.

As divergências entre ambos, na verdade, começaram logo à chegada do morgado de Mateus, que, a princípio, permaneceu alguns meses na vila de Santos, Depois, ao subir a Serra do Mar, a pretexto de aumentar a arrecadação, o governador exigiu que a Provedoria e seu cofre que estavam em Santos fossem transferidos para a cidade de São Paulo. Ganhou, com isso, a oposição de Aboim, para quem a medida iria desamparar a Alfândega e causar outros prejuízos. Para Aboim, não poderia o cofre da Provedoria ficar “tão distante da praça principal e porto de mar”.

Em São Paulo, sem contar com o apoio do morgado de Mateus, Aboim passou a se atritar também com o ouvidor-geral da comarca Salvador Pereira da Silva, a quem acusava de associar-se ao procurador da Coroa e da Fazenda, Bernardo Rodrigues do Vale, com o objetivo de embargar suas atividades como provedor da Fazenda Real. Para Aboim, o intuito do ouvidor seria o de abolir a jurisdição da Provedoria com o estabelecimento da Junta da Fazenda na capitania.

Com a Câmara, Aboim também não mantinha bom relacionamento desde os seus primeiros dias na cidade, quando mandou que a Casa assumisse o pagamento dos salários dos ouvidores. Na verdade, desde 1758, havia um precatório expedido por seu antecessor na Provedoria, José de Godói Moreira, cobrando promessa que a Câmara de São Paulo e demais câmaras da capitania haviam feito de assumir aquelas despesas, mas que, por pressões políticas, ficara parada em algum cacifo da Casa depois que o procurador pedira vistas. Foi esse precatório que Aboim fez questão de cumprir, descontentando os “homens bons” da Câmara.

II

Depois de três anos de trabalho na cidade de São Paulo, Aboim entraria novamente em rota de colisão com o governador, que o afastaria da função sob a alegação de que teria falsificado contas remetidas ao Erário Régio. Em carta ao ministro Martinho de Melo e Castro, Aboim queixou-se do “ódio” que lhe tinha Bonifácio José de Andrada, escrivão da Provedoria, “homem bom” da vila de Santos, pai do futuro patriarca da Independência, seu declarado inimigo, desde que havia, em outros tempos, mandado sequestrar alguns de seus bens sob a justificativa de danos causados ao Erário Régio. Para Aboim, o governador e o escrivão teriam armado um conluio para prejudicá-lo.

No conluio, Aboim incluiria o novo ouvidor da capitania, José Gomes Pinto de Moraes, ex-juiz de fora da vila de Santos, que acabaria por assumir suas funções. Para ele, o governador devotava-lhe “um ódio” por causa do zelo com que desempenhava suas funções, pois “não consentia que tirassem da Fazenda Real cousa alguma” nem aprovava “despesas inúteis” ou ilicitudes.

Segundo Aboim, o governador mandara elaborar “contas falsas sobre as expedições ao Tibaji e Iguatemi”, que haviam tido o objetivo de impedir o avanço dos castelhanos do Paraguai, embora tivessem constituído um grande e custoso fiasco. Com as falsificações, segundo ele, o governador pretenderia encobrir fraudes. Sem contar que as expedições ao Tibaji, acusou, tinham como intuito disfarçado “afugentar as gentes” para que os protegidos do governador pudessem procurar diamantes “desde a mina de Guaraíba até Furnas”.

Aboim acusou ainda o morgado de Mateus de manter em sua própria casa uma “oficina com materiais que pertenciam à Fazenda Real, o que se praticou por muitos anos”. Por fim, entrou na vida privada do governador, dizendo que o ouvidor José Gomes Pinto de Morais costumava levar à noite mulheres casadas e solteiras para a casa da governação, “sob pretexto de depoimento”. É de lembrar que a esposa do governador ficara no Reino. E ainda acrescentou que o ouvidor “andava amancebado com uma mulher cujo marido era seu associado em negócios”.

Há ainda outras denúncias de Aboim que, por uma questão de espaço, não cabem aqui. Fosse como fosse, o funcionário sempre teve cobertura no Reino porque, de certo modo, colocava as autoridades reinóis a par de uma grande série de safadezas que os seus altos funcionários praticariam no Ultramar.

Perseguido também pelo sucessor do morgado de Mateus, Lobo de Saldanha, não restou a Aboim outra saída a não ser aceitar a sua nomeação para secretário do governo de Angola, o que, de certa forma, mostra que, com o ministro Martinho de Melo e Castro, provavelmente em função dos muitos relatórios que encaminhara ao Reino sempre “em defesa dos interesses da Fazenda Real”, o seu prestígio manteve-se em alta.

Em Angola, porém, em razão do clima extremamente quente, Aboim adoeceu e foi obrigado a retirar-se para o Rio de Janeiro a fim de “curar-se”. Achando-se no Rio de Janeiro, por indicação do ministro Martinho de Melo e Castro, seria nomeado em 1784 pela rainha D. Maria para secretário do governo da capitania de Minas Gerais. E, a partir daqui, para se saber da vida deste funcionário o melhor mesmo é seguir a pesquisa de Caio Boschi.

O que se pode ainda acrescentar é que sua nomeação não seria bem recebida pelo governador e capitão-general Luís da Cunha Meneses, que sempre tratou de afastá-lo das reuniões em que discutia com seus auxiliares os assuntos mais importantes da governação, tendo-o por “espião” do ministro Melo e Castro.

Depois, ao tempo do governo do visconde de Barbacena, Aboim admitiu ter desempenhado o cargo de secretário de governo durante o mandato de Cunha Meneses “só no nome”. Por essa época, conviveria com a maioria daqueles pró-homens que acabariam por se envolver em conversações que redundariam na fracassada conjuração de 1789. Sem espaço para exercer o cargo, continuou a exercitar um hábito que levara de São Paulo: o de escrever extensos relatórios ao Reino sobre o comportamento dos governadores e capitães-generais. De Cunha Meneses, diria que ele confiava “mais nos seus familiares e até nos mulatos”.

Com base na documentação consultada, Caio Boschi reputa como louvável o seu zelo com o acervo da Secretaria de Governo, o que pode comprovar o pesquisador que consultar o fundo documental da Seção Colonial do Arquivo Público Mineiro (cota SC-03).

III

Ao contrário do que pode parecer ao leitor desta resenha, a atuação de Aboim no livro de Boschi ocupa três páginas e meia e, portanto, é apenas tangencial. Haveria, portanto, muitos mais o que dizer sobre outros temas. Mas, como esta recensão já vai longe, que as poucas linhas que restam sirvam para dizer que este livro de Caio Boschi, a exemplo de outras obras suas, constitui desde já uma referência para todo historiador do Brasil colonial.

Nele, o autor mantém a sua preocupação em indicar fontes documentais, como bem sabe quem conhece a participação decisiva que o historiador teve na viabilização do Projeto Resgate, que, criado em 1995, mobilizou equipes de pesquisadores com o objetivo principal de disponibilizar em microfilmes documentos relativos à História do Brasil existentes em arquivos de outros países, sobretudo em Portugal e demais países europeus com os quais o País teve sua vida colonial imbricada.

Como observa o próprio autor na nota de apresentação, o que estes ensaios têm em comum é o fato de buscarem uma melhor compreensão da dinâmica e do funcionamento – não da estrutural formal – de determinadas instituições coloniais, bem como da atuação de personagens que nela tiveram algum protagonismo. Como também bem observa Romero Magalhães no prefácio, vale o título de um destes ensaios cuja inspiração Caio Boschi buscou em carta que D. Fr. Manuel da Cruz mandou ao rei em 1753, a propósito de sua desilusão com o estado em que se encontravam os papéis da Diocese de Mariana: “(...) se se não põe logo no princípio tudo em boa ordem, tudo para o futuro serão desordens”.

Eis o que Caio Boschi tem feito para a atual geração de pesquisadores da História colonial brasileira: ajudar a colocar em boa ordem não só os papéis como as ideias. É uma dívida que a História do Brasil nunca lhe haverá de pagar.
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EXERCÍCIOS DE PESQUISA HISTÓRICA, de Caio C. Boschi. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 327 págs., 2011, R$ 48,00. E-mail: editora@pucminas.br Site: www.pucminas.br/editora
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), entre outros

domingo, junho 03, 2012

RESENHA


Um campo de concentração nos trópicos


Adelto Gonçalves (*)

I

Se o Brasil já soube reverenciar os seus grandes escritores, como ao tempo de José de Alencar (1829-1877), Machado de Assis (1839-1908), Olavo Bilac (1865-1918), Graciliano Ramos (1892-1953) e Jorge Amado (1912-2001), hoje não o faz tanto. E não é porque não existam grandes escritores. É por desconhecimento mesmo das novas e velhas gerações que são bombardeadas por literatura norte-americana de baixo nível, que aqui chega em formato de livros de auto-ajuda.

Quem é professor de Língua Portuguesa na graduação conhece bem o drama: se pedir para que seus alunos escrevam resenha crítica de algum livro que já tenham lido nos últimos anos, será contemplado com apreciações sobre os chamados best sellers de autores norte-americanos. E mais: na maioria, são resenhas que tiram da Internet e que assumem como suas, praticando apropriação indébita. Mas o que esperar de um País que há muito tempo não prepara seus professores do ensino fundamental e médio, mas pretende “inundar” as escolas públicas de lousas digitais, provavelmente porque algum figurão há de ganhar gordas comissões nas vendas para prefeituras e órgãos públicos?

Mas nem tudo está perdido. Ainda bem que, de vez em quando, aparece um editor de visão e bons propósitos, como Nicodemos Sena, que, aliás, é também um fino escritor. Diretor da Associação Cultural Letra Selvagem, de Taubaté-SP, Sena vem relançando vários livros que já deveriam ter sido canonizados na História da Literatura Brasileira. Mas que, sabe-se lá por que, não o foram.

É o caso de Selva Trágica, de Hernâni Donato, que, lançado em 1960, causou grande impacto no leitor a ponto de esgotar quatro edições. E não só. Em 1963, em função do sucesso de crítica e de público, foi transformado em filme em preto e branco pelo diretor Roberto Farias, marcando a estréia de Reginaldo Farias, que viria a se tornar um dos principais atores do cinema brasileiro. O filme ganhou o Prêmio Saci, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, e representou o Brasil no Festival de Veneza. Hoje, é considerado um “clássico” do Cinema Novo brasileiro e não pode faltar no acervo de uma cinemateca.

Hernâni Donato, 90 anos, nasceu em Botucatu, interior de São Paulo, em uma família de imigrantes italianos. Filho de um operário, mesmo com dificuldades, tornou-se um intelectual de sólidos conhecimentos e, profissionalmente, desempenhou a atividade de publicitário. Membro da Academia Paulista de Letras, é autor de mais de 70 livros, nos mais variados gêneros, indo da literatura infanto-juvenil à biografia, da historiografia aos costumes, da pesquisa à divulgação científica. Traduziu a Divina Comédia, de Dante Alighieri. Como romancista, publicou ainda Chão Bruto, Rio do Tempo, O Caçador de Esmeraldas e Filhos do Destino, que obtiveram êxito editorial nas décadas de 1950 e 1960.

II

De que trata Selva Trágica? É um romance-documento como poucos na história da Literatura Brasileira. À maneira de Gustave Flaubert (1821-1880) e Émile Zola (1840-1902), o jovem Donato empreendeu uma minuciosa pesquisa não só em fontes impressas como in loco, visitando a região em que situou o seu romance e entrevistou pessoas que serviriam para compor seus personagens. Ouviu casos terríveis contados por antigos trabalhadores das “minas” de erva-mate no Mato Grosso, na fronteira com o Paraguai, que só não surpreendem porque no Brasil de hoje os jornais, de vez em quando, ainda trazem notícias de que as autoridades federais flagraram trabalho escravo em fazendas.

É do que trata, em poucas palavras, o livro de Donato. Até 1938, período do primeiro governo de Getúlio Vargas, o nosso clone de Hitler e Mussolini, manteve-se o monopólio da Companhia Mate Laranjeira, empresa argentina que explorava a extração do mate nos ervais do Mato Grosso. O trabalho era desumanamente desenvolvido em condições que fariam o Inferno, de Dante Alighieri (1265-1321), parecer um oásis.

Ao final da década de 1950, quando Donato embrenhou-se nos ervais em busca de material para o seu romance, ainda havia cerca de cinco mil homens e mulheres que trabalhavam em condições subumanas, sem descanso, durante 14 horas por dia, na colheita e transporte da erva. Ainda assim, há historiadores que afirmam que o período Vargas (1930-1945) foi aquele em que pela primeira vez os trabalhadores tiveram seus direitos reconhecidos e respeitados. Talvez isso se tenha dado em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, porque no interior o Brasil sempre foi um imenso campo de concentração, que nada ficaria a dever a Auschwitz-Birkenau ou ao Gulag soviético, ainda que em tempos de paz.

III

Entre as muitas histórias que Donato recolheu e transportou para a literatura, estão a do homem que teve de lutar de garrucha em punho e viu seu filho morrer, porque ousou escrever sobre o que se passava na cultura do mate; e a do peão que trazia no corpo sinais de 18 facadas, com cortes que haviam sido costurados com agulha e barbante de costurar saco. Mas isso ainda era pouco: diariamente, os homens tinham de transportar o mate entre a “mina” e o acampamento, pelo meio da selva bruta, em fardos de 150 ou 200 quilos, amarrados às costas. Qualquer passo em falso causava a quebra da espinha dorsal do carregador. A vítima gemia a noite inteira, até que os demais trabalhadores pediam ao administrador que tivesse caridade. Então, os próprios companheiros recorriam ao jogo de cartas para que ao perdedor coubesse a tarefa de “de dar paz ao moço desgraçado”, ou seja, dar um tiro na cabeça daquele ser agonizante (pág.36).

Os bebedores de mate – hábito ainda largamente difundido não só no Centro-Oeste e Sul do Brasil como nos países de fala hispânica – que viviam na cidade, provavelmente, nem imaginavam como a erva-mate seria cultivada. Talvez tenham ficado indignados com os fatos narrados em Selva Trágica, o que justificaria a procura que o livro despertou no acanhado ambiente cultural paulista e carioca daquela época.

São narrações pungentes que horrorizam pela brutalidade com que era tratado o “uru”, o homem responsável pelo “barbaquá”, espécie de forno de madeira em que a erva era preparada para o consumo. Esse coitado era obrigado a trabalhar dia e noite sem parar, remexendo as folhas da erva sob um calor infernal. Depois de algum tempo trabalhando sob essas condições atrozes, todos os pelos de seu corpo secavam, caindo.

O trabalhador ficava esturricado e se transformava num feixe de ossos, talvez parecendo um salame defumado, enquanto os diretores da Companhia Mate Laranjeira confraternizavam-se com os donos do poder no palácio do governo em Cuiabá, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, na Casa Rosada, em Buenos Aires, e no Palácio de los López, em Assunção, garantindo o privilégio do monopólio da extração da erva.

Por aqui se vê que Selva Trágica é um romance épico, que, incompreensivelmente, estava esquecido. E olhem que não foi por falta de reconhecimento da crítica. Temístocles Linhares em História Econômica do Mate (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1960) já o considerara um “romance másculo, forte, bárbaro, como bárbara era a selva, como bárbaro era o trabalho nos ervais”. Artur Neves, na Revista Anhembi (São Paulo, 1961), já o definira como “uma história como nunca foi escrita em nossa terra”.

IV

Como observa o professor e crítico literário Fábio Lucas em O Caráter Social da Literatura Brasileira (Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1970), em texto que serve de prefácio para esta edição, Selva Trágica constitui “um dos mais altos momentos da novelística de conteúdo social no Brasil”. Lembra Fábio Lucas que os ervateiros eram mobilizados na fronteira Brasil-Paraguai e levados por máfias para casas de prostituição, até que, bêbados, assinavam um contrato leonino com a companhia. Ficavam devedores para sempre, ganhando apenas para comer. Aos que tentavam escapar do inferno, restava a perseguição dos capangas da companhia que, quando os capturavam, espancavam-nos até a morte. “Não pense que gosto de mandar bater. Mas quem segura esse povo no duro do trabalho se não usar dureza?”, dizia Curê, o administrador (pág.142).

Os capatazes da companhia eram tão sórdidos que se sentiam no direito de abusar das mulheres dos ervateiros, enquanto estes se embrenhavam no mato. As mulheres serviam também para pagar dívidas, funcionando como moeda de troca entre os homens. Mas, apesar da sordidez da vida que levavam, havia ainda aqueles que encontravam forças para lutar contra a exploração e defendiam a extinção do monopólio da companhia. Entre esses, estavam os changa-y, “os mais miseráveis dos miseráveis dos trabalhadores da erva”, aqueles que tentavam trabalhar sem o patrão-algoz.

Luisão era um desses que escapara do inferno verde e andara por Cuiabá e Rio de Janeiro em conversas e peditórios com os políticos favoráveis à extinção do privilégio da companhia ervateira. Dizia aos companheiros: “A Companhia faz também essa e faz a grande política em Cuiabá, em São Paulo, no Rio, em Buenos Aires, sei lá onde mais. Assim, cobre os gemidos e os gritos da pobre gente dos ervais. No andar em que vamos, nem no fim do século teremos forças para emparelhar o nosso passo com o passo da Companhia. Lá fora é que é preciso gritar. O Governo é que nos pode ajudar se chega a nos ouvir. Mas o Governo só ouve ribombo, soluços não” (págs. 136/137).

Não por coincidência publicado em 1956, mesmo ano em que saiu à luz Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa (1908-1967), Selva Trágica é um passo adiante do romance regionalista da década de 1930, época em que o pobre entrou triunfalmente na Literatura Brasileira. Ambientado no mundo da fronteira, traz ainda uma complexa linguagem narrativa, um verdadeiro amálgama da língua portuguesa com o linguajar guarani, como observa a professora Nelly Novaes Coelho, da Universidade de São Paulo, na apresentação que escreveu para esta edição.

Nesse sentido, é de acrescentar que Selva Trágica tem muitos pontos de aproximação com o trabalho do romancista, contista e antropólogo peruano José María Arguedas (1911-1969), autor de Los Ríos Profundos (1956), Todas las Sangres (1964) e El Zorro de Arriba y el Zorro de Abajo (1971, póstumo), entre outros, que igualmente fazia um trabalho de campo antes de escrever sobre a realidade do mundo quechua no Peru. Não por acaso os livros de ambos são permeados por inevitáveis notas de rodapé que servem para explicar as palavras tiradas do idioma indígena.

Houve ainda quem comparasse Hernâni Donato com Erskine Caldwell (1903-1987) e John Steinbeck (1902-1968), a geração norte-americana da revolta, o Caldwell de Chão Trágico (Tragic Ground, 1944), um mergulho na vida dos vencidos e desgraçados do Sul dos Estados Unidos, e o Steinbeck de As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath,1937), que conta a história de uma família pobre no estado de Oklahoma durante a Grande Depressão de 1929, que, obviamente, nada têm a ver com a atual geração de norte-americanos produtores de best sellers que envenenam a nossa pouco letrada juventude.
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SELVA TRÁGICA, de Hernâni Donato. Taubaté-SP: Associação Cultural Letra Selvagem, 288 págs., 2011, R$ 35,00. E-mail: letraselvagem@letraselvagem.com.br Site: www.letraselvagem.com.br
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), entre outros.

domingo, abril 29, 2012

RESENHA



Cartas a um jovem escritor

                                                                                               Adelto Gonçalves (*)    
                                                 I
          Quem procurar saber quem foi Carlos Magalhães de Azeredo (1872-1963) na história da Literatura Brasileira, dificilmente, haverá de encontrar referências mais aprofundadas.   Afrânio Coutinho em Brasil e brasileiros de hoje (Rio de Janeiro, Sul-Americana, 1961) e Raimundo de Menezes em Dicionário Literário Brasileiro (Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1978) citam-no e no portal digital da Academia Brasileira de Letras pode-se encontrar uma breve biografia. Foi um dos fundadores da Casa e o acadêmico que mais tempo ocupou sua cadeira: 66 anos.
          Ainda que tenha tido vida longa e publicado uma série de livros – pelo menos 17, de poemas, ensaios, contos e estudos – e imaginado tantos outros que, ao que parece, não vieram à luz, esteve, nos últimos 50 anos, completamente esquecido. A última vez que seu nome foi citado com destaque nos jornais foi em 2003, quando o ex-presidente Itamar Franco, então ocupando o cargo de embaixador do Brasil em Roma, entregou à Academia Brasileira de Letras originais do autor que encontrara entre os papeis da Embaixada.
          De família abastada, nascido no Rio de Janeiro, Azeredo fizera os primeiros estudos no Porto, antes de retornar ao Brasil, morando em Itu, onde fez os estudos complementares, antes de ingressar na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, pela qual se formou em Direito, em 1893. Dois anos depois, ingressou na vida diplomática, tendo ocupado vários cargos no exterior – no Uruguai, na Itália, em Cuba e na Grécia –, até que encerrou a carreira como representante do Brasil no Vaticano em 1934. Por um tempo, exilou-se em Paris, voltando a Roma, cidade de sua predileção.
          De estilo caudaloso, para abrir caminho nos meios literários, valeu-se principalmente da amizade com Machado de Assis (1839-1908), com quem trocou cartas desde a precoce idade de 17 anos, embora o destinatário das epístolas já tivesse a essa altura mais de 50 anos e fosse nome consagrado nas letras. É provável que relações familiares os tenham aproximado, pois Machado conhecera bem os pais de Azeredo, como se percebe a partir da leitura das cartas que trocaram por 19 anos, até a morte do autor de Dom Casmurro.
          Ao contrário do que vaticinava Machado de Assis, Azeredo, embora tenha tido também intensa atuação da imprensa brasileira, foi sendo pouco a pouco esquecido e, praticamente, não exerceu influência nos meios literários brasileiros, ainda que nunca tenha deixado de praticar a política literária, já que a sua morada em Roma transformou-se em ponto de encontro de intelectuais em visita ao Velho Mundo. Mesmo depois de se aposentar, continuou morando em Roma, até a sua morte. Sua poesia manteve-se fincada nos ideais do parnasianismo, o que deve ter contribuído para o seu esquecimento.
          De valioso, o que deixou mesmo foram as cartas que não só trocou com Machado de Assis como com outros literatos, como Mário de Alencar (1872-1925), filho de José de Alencar (1829-1877), outro amigo íntimo do bruxo do Cosme Velho, que hoje fazem parte do acervo da Academia Brasileira de Letras. Por essas cartas, o pesquisador tem acesso à boa parte da história literária e mesmo do País, em razão das impressões que os missivistas trocavam. Nas cartas que dirigiu a Azeredo, Machado de Assis, tal a intimidade entre ambos, fez confidências nunca registradas em crônicas.
                                                 II
          Grande parte dessas cartas já havia sido reunida pelo pesquisador norte-americano Carmelo Virgilio e publicada em 1969 pelo Instituto Nacional do Livro, mas, agora, é possível encontrá-las nos três tomos de Correspondência de Machado de Assis, especialmente no III, que abrange o período de 1890 a 1900 (Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2011). A correspondência entre os dois neste volume reúne 90 cartas e constitui um testemunho precioso de uma época conturbada bem como do ambiente cultural no Brasil e na Europa. E são as que oferecem maiores detalhes da vida privada de ambos e do ambiente cultural em que viviam.
          No total, são 292 missivas, entre cartas, bilhetes e cartões, quantidade superior a toda a correspondência publicada nos tomos anteriores (1860-1869 e 1870-1889), abrangendo 291 documentos. Como observa o acadêmico Sergio Paulo Rouanet na apresentação, há no tomo III uma participação desproporcional de Magalhães de Azeredo, nome que já aparecera como responsável por três cartas no tomo II. A partir de 1892, as cartas de e para Azeredo predominam de modo avassalador, assinala Rouanet. De fato, até o final de 1900, são 58 cartas de Azeredo para Machado e 32 deste para Azeredo, ou seja, 30% do total das cartas reunidas neste volume.
          Pouco antes de morrer, Machado de Assis pediu a José Veríssimo (1857-1916) que devolvesse ao autor os originais das cartas dele recebidas. Mais tarde, Azeredo doou esse acervo epistolar à Academia, o que explica a sua preservação, enquanto centenas de outras acabaram por se perder ou talvez resistam no arquivo de um ou outro colecionador ou alfarrabista. “E eis como um escritor pouco valorizado hoje em dia chegou à posteridade pelo mero fato de ter tido o dom de relacionar-se com o maior escritor do Brasil”, observa Rouanet.
                                                 III
          Não se pode dizer que o estilo e o vocabulário de Azeredo ficassem muito aquém das qualidades do mestre, mas, como diz Rouanet, o que ressalta é a alta conta em que o jovem escritor se tinha, o que contrasta com a “sábia e calculada modéstia” de Machado. Sem contar que o jovem Azeredo fazia incontáveis exigências e reclamações, encarregando Machado de Assis de negociar condições com editores do Rio de Janeiro para a publicação de suas obras. É verdade que Machado, em suas respostas, também estimulava o ego do jovem poeta, augurando-lhe um futuro brilhante no olimpo das letras nacionais que, aliás, nunca se deu. Além disso, está claro que a entrada de Azeredo na Academia deu-se apenas pela força política do padrinho.
          Se as cartas de Machado de Assis são mais sóbrias e mais burocráticas, as de Azeredo compõem um painel variado da época, pois ele fala de tudo o que o cerca, da política brasileira e dos países pelos quais passa ou vive temporariamente, descendo a detalhes mundanos, talvez para dar ao mestre uma visão mais próxima daquilo que ele conheceria apenas por ler ou ouvir falar – até porque o mestre, quando saiu do Rio de Janeiro, o foi por poucos dias e para passeios por lugares próximos.
          Das cartas de Machado de Assis, entre muitas confidências, ressalta a avaliação que faz de Eça Queirós (1845-1900) em carta a Azeredo no começo de 1898, ao dizer que começara a ler A Ilustre Casa de Ramires seguido de um comentário elogioso, o que significa uma alteração substancial na apreciação que fizera da obra de Eça em 1878, a propósito da publicação de O Primo Basílio, como assinala Sílvia Eleutério numa nota de rodapé.
          Aliás, além da exaustiva apresentação de Rouanet, que ocupa 27 páginas, vale destacar não só o trabalho de edição e organização de Sílvia Eleutério e Irene Moutinho como as notas explicativas que apuseram às cartas, trabalho minucioso de pesquisa e contextualização que facilita sobremaneira a vida do leitor deste século XXI, já tão distante de fatos que ocorreram há mais de um século.
          Não se pode dizer que só as cartas a Azeredo tenham importância neste volume, mas são as que merecem mais destaque, como aquelas em que Machado de Assis reclama das vicissitudes por que passava como funcionário público ou ainda se defende um ataque despropositado que Sílvio Romero (1851-1914) fizera num estudo publicado em livro cujo título era o próprio nome do romancista seguido de um subtítulo – Estudo Comparativo de Literatura.
          Machado sentiu o golpe, mas logo se consideraria refeito, com algumas respostas que sairiam na imprensa, especialmente quatro artigos publicados no Jornal do Commercio no começo de 1898 pela pena de um tal de Libieno, pseudônimo que escondia o nome do advogado e político Lafaiete Rodrigues Pereira (1934-1917), o conselheiro Lafaiete, a quem no passado o próprio Machado havia feito alguns ataques. Foi o que motivou uma carta de agradecimento a Lafaiete, embora a ação do advogado não fosse tão altruísta assim, pois aproveitara a ocasião para desancar Sílvio Romero, um velho desafeto. Para quem gosta destas questiúnculas perdidas no tempo, este livro é especialmente saboroso.
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CORRESPONDÊNCIA DE MACHADO DE ASSIS, tomo III – 1890-1900. Coordenação e orientação: Sergio Paulo Rouanet, reunida, organizada e comentada por Irene Moutinho e Sílvia Eleutério. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2011, 658 págs., R$ 50,00.
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003), entre outros.

domingo, abril 15, 2012

Nesse livro a cidade se transparece em uma multiplicidade de ideologias conflitantes em meio à vitalidade do movimento operário em crescente organização no país


Barcelona Brasileira


ADEMIR DEMARCHI (*)


Barcelona Brasileira, romance do jornalista e escritor Adelto Gonçalves, ilustra a riqueza de tensões ideológicas em jogo no Porto de Santos, por onde se escoava principalmente a produção de café no início do século 20.

Nesse livro a cidade se transparece em uma multiplicidade de ideologias conflitantes em meio à vitalidade do movimento operário em crescente organização no país graças à vinda de estrangeiros para trabalhar nas indústrias de São Paulo e no Porto.

As tensões estão nos ultraconservadores de direita personificados em empresários locais e num delegado incensado por eles como a solução para acabar com o arroubo dos militantes de esquerda, líderes sindicais comunistas e anarquistas espanhóis.

Ángel Blanco, o Espanhol, vindo de Barcelona, personifica e reforça o ideário anarquista no meio do movimento operário, sendo foco de ódio tanto de conservadores quanto de comunistas que odeiam anarquistas justamente por sua natureza contestatória que não cabe em partidos centralizadores como os comunistas.

Por isso, Blanco é talvez o personagem mais emblemático desse romance, dada sua mobilidade e capacidade de articulação subversiva que o faz transitar fugindo de Barcelona para vir infiltrar-se no movimento operário brasileiro, ser expulso do país e retornar tempos depois para novas investidas, numa determinação militante admirável. O ódio de comunistas a ele poderia ser explicado facilmente por sua afirmação de que “não existia ditadura do proletariado, mas apenas ditadura”.

Assim pensando, a ação de Blanco é altamente incômoda, uma vez que as forças conservadoras, defensoras da propriedade à base da alta exploração do proletariado empobrecido, se uniam em torno do delegado. Apoiado pelo governador do Estado e um deputado, sua missão era combater o que identificavam como um único mal “agourento” que vinha “das longínquas, das indecifráveis regiões da Rússia”.

Em meio à turbulência que anunciava a modernização do país, está o poeta lírico Martins Fontes, um passadista, em nada filiado à estética contestadora nascente, dada a ingenuidade marcante de seus versos.

Adelto o personifica como era, um homem bom, médico cuidando de graça de pessoas pobres, ocupando-se de tuberculosos e vítimas da gripe espanhola, já que não eram apenas de anarquistas vindos da Espanha que Santos se ocupava…

Se sua poética era sentimental e de certa forma alienada, no romance ele tenta sair da camisa de força burguesa, ajudando pobres e operários. Parece fadado, porém, mais a uma Helena em nada grega, antes amulatada, que o distrai entre uma enfiada na vida burguesa e outra no meio operário, que a ser um militante como Blanco.

Operários morrem, manifestações, perseguições e investigações são feitas, dando cor à Barcelona Brasileira em que muito mais contestação havia que nos tempos que correm, de mais intensa alienação e especulação imobiliária…

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(*) Ademir Demarchi é doutor em Letras na área de Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), poeta e editor da Revista Babel.

quinta-feira, abril 05, 2012

Ao receber as doações, Kopyl disse que estava profundamente emocionado com a receptividade encontrada pela campanha entre autores, editoras e instituições brasileiras e portuguesas.


Centro Lusófono de São Petersburgo recebe mais livros do Brasil e Portugal


[Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, em São Petersburgo: trabalho do Centro Lusófono Camões está orientado para a difusão da Língua Portuguesa na Rússia]

Campanha de doação procura difundir e estimular o ensino da Língua Portuguesa na Rússia

Adelto Gonçalves

            SÃO PETERSBURGO – Várias instituições, editoras e autores do Brasil e Portugal enviaram doações pelo correio para aumentar o acervo de Língua Portuguesa do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo. A campanha tem por objetivo ajudar a difusão da Língua Portuguesa na Rússia.

            Segundo levantamento feito pelo professor Vadim Kopyl, diretor do Centro Lusófono Camões, já chegaram a São Petersburgo, desde setembro, quando foi lançada a campanha, cerca de 150 livros. Ao receber as doações, Kopyl disse que estava profundamente emocionado com a receptividade encontrada pela campanha entre autores, editoras e instituições brasileiras e portuguesas.

            “Para mim, é difícil procurar palavras com as quais poderia expressar toda minha emoção e minha imensa gratidão a todos os doadores porque recebemos, na realidade, um verdadeiro tesouro, entre gramáticas, antologias, romances, contos, obras poéticas, revistas acadêmicas e ensaios em separatas”, afirmou. “Mais que isso: eu sentia que, com os livros, vinham também carinho, simpatia e a vontade de conhecermo-nos melhor”, acrescentou.

            Da Academia Brasileira de Letras, que já havia feito uma remessa inicial de livros, o Centro recebeu ainda as Obras Completas de Machado de Assis, em quatro volumes. Da Editora Cultrix, de São Paulo, chegaram sete livros de Massaud Moisés, professor titular da Universidade de São Paulo (USP): A Literatura Portuguesa Através dos Textos, A Criação Literária (três volumes), História da Literatura Brasileira, Literatura: Mundo e Forma, Dicionário de Termos Literários, A Literatura Portuguesa e Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira. Da Editora Garamond, do Rio de Janeiro, o livro O Desafio do Escombro: nação, identidade e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau, da professora Moema Parente Augel.

            Da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos-SP, chegaram os seguintes livros: Benedicto Calixto – Imortalidade, de Milton Teixeira; Identidade e Poder na Universidade, de Sílvia Ângela Teixeira Penteado; Pagu – Patrícia Galvão, livre na imaginação, no espaço e no tempo, de Lúcia M. Teixeira Furlani; A Claridade da Noite – Os Alunos do Ensino Superior Noturno, de Lúcia M. Teixeira Furlani; Autoridade do Professor: Meta, Mito ou Nada Disso?, de Lúcia M. Teixeira Furlani; e Croquis de Pagu, de Lúcia M. Teixeira Furlani; além de exemplares da Revista Ceciliana.

            Da editora Letra Selvagem, de Taubaté-SP, o Centro recebeu os livros A mulher, o homem e o cão, A Noite é dos Pássaros e A Espera do Nunca Mais: uma saga amazônica, de Nicodemos Sena; A maldição de Ondina, de António Cabrita; O Sal da Terra, de Caio Porfírio Carneiro; Deus de Caim, de Ricardo Guilherme Dicke; Invenção de Onira, de Sant´Ana Pereira, Tratado dos Anjos Afogados, de Marcelo Ariel, Selva Trágica, de Hernâni Donato,  Anima – a Voz de Bichos Brasileiros, de Olga Savary, O Homem Deserto sob o Sol, de Edivaldo de Jesus Teixeira, e Gente Pobre, de Fiodor Dostoievski, em tradução de Luís Avelima.

            O Centro Lusófono Camões recebeu também livros de escritores: do romancista luso-brasileiro Cunha de Leiradella, de Portugal, Os Espelhos de Lacan, Apenas Questão de Método, Apenas Questão de Gosto, Guerrilha Urbana - o longo tempo de Eduardo da Cunha Júnior e Cinco Dias de Sagração; do poeta Iacyr Anderson Freitas, de Minas Gerais, Trinca dos traídos, coletânea de contos publicada em 2003 pela Nankin/Funalfa Edições, de São Paulo; do romancista e poeta Ronaldo Costa Fernandes, de Brasília, O viúvo e A máquina das mãos; da escritora Branca Maria de Paula, de Belo Horizonte-MG, o livro de contos Fundo Infinito e os livros de literatura infanto-juvenil Claro Escuro, Pacífico, o Gato e O Peixe e a Onda; de Alaor Barbosa, de Goiânia-GO, o romance Vasto Mundo; de Vera Lúcia de Oliveira, professora de Língua e Literatura Brasileira e Portuguesa da Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade de Perugia, Itália, o livro de poemas A Poesia é um Estado de Transe. O poeta e escritor Ademir Demarchi, de Santos-SP, enviou as últimas edições da Revista Babel, por ele editada.

            Fundado em 1999, o Centro Lusófono Camões começa o ano, em média, com 15 estudantes russos de Português. Os estudantes entram no nível zero, passando para o nível médio, chegando ao nível superior. Em média, formam-se de sete a oito alunos por ano.  Desde a sua fundação, o Centro já publicou em edições bilingue  livros como o Guia de Conversação Russo-Portuguesa Contemporânea, Poesia Portuguesa Contemporânea (2004), que reúne poemas de 26 poetas portugueses, e Vou-me embora de mim (2007), do poeta português Joaquim Pessoa.

            Em 2006, com o apoio da Embaixada do Brasil em Moscou, o Centro publicou o livro Contos e, em 2007, Contos Escolhidos, de Machado de Assis (1839-1908), em edição russo-portuguesa, com prefácios de Adelto Gonçalves, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

SERVIÇO – As instituições, editoras e autores do mundo lusófono que quiserem participar da campanha devem enviar os seus livros para:

Prof. Vadim Kopyl

CENTRO LUSÓFONO CAMÕES

Moica 48 - UNIVERSIDADE ESTATAL PEDAGÓGICA HERTZEN k. 14

Saint Petersburg – Russia